Pacientes e familiares » Cuidadores e Familiares de AVC »

Planejando a alta hospitalar

A volta para casa após o AVC - a jornada da reabilitação

13/02/2023

O tema da II SEMANA AÇÃO AVC,  evento realizado pela ASSOCIAÇÃO AÇÃO AVC em 2022, foi  AVC - UMA DOENÇA DA FAMÍLIA.

O médico intensivista Dr. Luciano Souza fala sobre a importância do planejamento na alta hospitalar e o retorno seguro para a saúde da família envolvida com o AVC.

O AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, os dados estatísticos evidenciam que 1 a cada 6 pessoas terá AVC ao longo da sua vida.

Grande parte destas pessoas vai permanecer sob cuidados especializados, visto que elas podem se tornar dependentes para exercer atividades habituais. Além das sequelas físicas, ocorrem também as sequelas emocionais. Pois o AVC afeta a dependência do paciente e tem implicações tanto sociais como econômicas por acometer a sua autonomia. 

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” (Charlie Chaplin)


Alta hospitalar x Alta médica

A alta médica está relacionada à cura do paciente, ou seja, a finalização do tratamento que levou o paciente a ficar internado em ambiente hospitalar.

Então o paciente não precisará mais de tratamento médico naquele momento, estando de alta médica.

Por sua vez, a “alta hospitalar” está relacionada à saída do paciente desse ambiente para continuidade do tratamento em sua residência com suporte de atendimento ambulatorial ou suporte de home care (atendimento domiciliar), de acordo com cada caso.

Nesse caso o paciente sai do hospital, porém, não está curado. O paciente, então, precisará de cuidados, mesmo em casa.

A alta hospitalar é justamente a transferência desse cuidado do ambiente hospitalar para outro contexto de saúde, ou seja esse paciente vai para rede de saúde para poder dar seguimento ao seu tratamento para continuar esse cuidado.


A importância do planejamento

O planejamento é importante pois vai ajudar a prevenir as reinternações, garantindo a continuidade do cuidado e melhorando a qualidade de vida no pós-avc.


A missão dos profissionais da saúde

“Curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre” (Hipócrates)

Por conta disso deve ser feitas as estratégias para a programação dessa alta, e as estratégias são baseadas em três pilares fundamentais que são:

Associação AÇÃO AVC - Dicas para a alta hospitalar após o AVC

Quando falamos em relação a alta do paciente do hospital, percebemos que ocorre na família sentimentos distintos, relacionados à felicidade e ao medo.

A felicidade de ter o seu ente querido de volta ao seu lar e o medo relacionado à necessidade de um familiar se tornar cuidador.

No hospital esse cuidado é realizado pela a equipe multidisciplinar mas no retorno ao domicílio essa responsabilidade na maioria das vezes passa a ser de um familiar, onde muitas vezes essa família não tem um apoio do serviço de saúde necessário, principalmente da medicina pública.


DICAS PARA A ALTA HOSPITALAR 


  1. Orientações da equipe conforme a necessidade individual de cada um
  2. Ter instrumentos de registro do histórico  clinico durante a internação. Esses dados serão úteis para a reabilitação.
  3. Certificar-se de como será o acompanhamento domiciliar. A rede de saúde é importante para esse apoio.


A família precisa estar bem orientada

Lidar com os conflitos e enfrentar os impasses com as limitações que vão surgir não será fácil, a família vai ver sua rotina mudar completamente, as orientações efetivas auxiliam nesses enfrentamentos e promove um alívio de ansiedades.

Essas informações passadas ao paciente e principalmente a família são aspectos essenciais nesse processo.

Ter um plano de cuidado para reabilitação e saída do paciente do hospital é de extrema importância, existem vários estudos que demonstram isso.

A reabilitação começa logo no primeiro dia e que o paciente consegue sair do leito e envolve todo o processo de adaptação, nos casos graves a tentativa é sempre manter o foco em resgatar a autoestima do paciente.

Reabilitação pós AVC
Reabilitação pós AVC

Naqueles pacientes que  permanecem acamados o tempo de hospitalização aumenta, principalmente se não tiver apoio da família. Isso exige que seja feito um plano de alta multidisciplinar, onde a preocupação é a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.

A alta tem como objetivo favorecer o paciente e todas as orientações devem ser baseadas nas avaliações e as necessidades individuais de cada um, levando em consideração o contexto sócio-econômico, limitações físicas e psíquicas e também o ambiente onde o paciente vive.


A alta hospitalar “responsável” 

Quando o paciente tiver sua alta, a família tem que estar bem orientada quanto à continuidade do tratamento, tem que incentivar o autocuidado e articular o processo de continuidade na rede de saúde e isso é um grande desafio para poder prevenir as reinternações que muitas vezes ocorre por conta de despreparo do cuidador.

Quanto mais precoce o início dessas orientações e planejamento da alta menor vai ser o tempo do internamento no hospital e consequentemente também menor será o tempo de reinternação. 

A alta planejada melhora a qualidade de vida do paciente e o sucesso na transição do cuidado.

O fracasso geralmente ocorre devido a falta de uma referência na rede de saúde, o não envolvimento do paciente e da família no plano de cuidado como também a falta de comunicação e de orientação durante todo o processo de internamento e da alta.

Nesse planejamento é essencial envolver o paciente e a família possibilitando que eles deem opinião do que deve ser considerado nesse processo.

Quando existe a participação do indivíduo ocorre o melhor gerenciamento do cuidado no domicílio prevenindo os efeitos adversos.


O envolvimento da família e do cuidador 

É de grande importância para que as coisas aconteçam porque a família é o principal grupo afetado pelo adoecimento, pois a condição de vida vai precisar ser ajustada de acordo com as necessidades e limitações do paciente.

Esse aprendizado é fruto de um trabalho realizado pela equipe multidisciplinar através de pequenos cuidados parciais que vão se complementando no decorrer da internação.

Quanto mais precoce o início dessas orientações melhor para a compreensão da família e do paciente.


Comunicação entre a rede de atenção à saúde

O acolhimento é necessário para que a atuação seja integrada e articulada.

A dificuldade de comunicação entre o hospital e atenção básica de saúde, assim como apresentação de informações perdidas e incompletas nos registros de atendimento e no plano de alta prejudica a continuidade do cuidado.

A alta hospitalar deve ser usada como um momento de produzir essa continuidade no cuidado e outro amplo de saúde, realizando o encaminhamento efetivo para o local indicado conforme necessidade do usuário.


Os erros mais comuns relacionados ao prejuízo no cuidado

Erros comuns no cuidado pós AVC
Erros comuns no cuidado pós AVC

Discretas melhoras dos sintomas eles provocam a desatenção na continuidade do cuidado e isso tem que ser bastante esclarecido ao paciente.

É preciso manter todo o cuidado.

Um plano de alta bem feito é baseado nos seguintes pontos:

-Treinamento e orientação tanto do paciente quanto da família da forma mais precoce possível;

-Histórico clínico perfeito do resumo da alta deve ser  em pelo menos três vias, onde uma via fica no prontuário, a outra é encaminhada para a família e outra via para rede de apoio desse paciente, onde ele vai ser inserido.

-Conceitos da doença, suas orientações aos sinais e sintomas, fatores de risco e maneiras de prevenção.

O paciente tem que ser encaminhado para uma rede de apoio e esse encaminhamento é essencial para que o cuidado não seja fragilizado e que se mantenha o segmento de acompanhamento domiciliar pelos profissionais de saúde.

O plano de alta tem que oferecer suporte aos profissionais envolvidos, familiares e cuidadores.

Um plano de alta bem feito reduz reinternações hospitalares,reduz as complicações e os eventos adversos pós-alta hospitalar, bem como garante uma transferência adequada do cuidado contribuindo assim para uma melhora na qualidade de vida dos pacientes acometidos por um AVC.

Por fim, gostaria de deixar essa última mensagem.

“ A vida é assim: esquenta e esfria, aperta daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem” (Guimarães Rosa)


Dr Luciano Souza - médico intensivista
Dr Luciano Souza - médico intensivista

*Este vídeo faz parte da programação da II SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC, promovido pela Associação AÇÃO AVC).