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Familiar cuidador - Como dividir tarefas

Cuidador de AVC - a importância de dividir tarefas

29/01/2023


Cuidado compartilhado, como estabelecer a divisão de tarefas?


A Terapeuta Ocupacional Samira Rafani fala sobre a  importância de dividir tarefas para o familiar cuidador do  AVC, acompanhe o vídeo:



O que é Terapia Ocupacional?


Um dos objetivos principais na terapia ocupacional é facilitar e habilitar as ocupações, aumentando a autonomia, independência e segurança na realização das atividades diárias.

A terapia ajuda a diminuir os  risco de quedas ou de acidentes, melhora a qualidade da execução da atividade, como  por exemplo realizar uma tarefa mais rapidamente ou ter maior efetividade na realização das atividades cotidianas.


O que é atividade cotidiana?


São atividades que precisamos e desejamos realizar no nosso dia-a-dia, são as atividades que são significativas e que  trazem saúde, bem-estar e qualidade de vida.

Veja alguns exemplos dessas atividades:


  • As atividades de autocuidado com as higienes;
  • Alimentação;
  • Vestir; 
  • Dirigir;
  • Cuidar da casa;
  • Preparo da alimentação; 
  • O gerenciamento da saúde, como administração de medicamentos;
  • Prática de atividade física; 
  • Trabalho;
  • Estudos;
  • Descanso;
  • Sono;
  • Lazer;
  • Participação social.


Onde entra o compartilhamento de cuidado?


Cuidar é uma ocupação, que se torna central quando nos deparamos com uma enfermidade, como Acidente Vascular Cerebral (AVC) em que subitamente afeta a rotina de todos os envolvidos.

Cuidar é um ato de amor
Cuidar é um ato de amor


Cuidar e ser cuidado pode ser muito gratificante, pois traz satisfação pessoal e desperta sentimentos, como compartilhamento de amor e retribuição do carinho recebido. Ser cuidado também desperta sentimentos positivos como se sentir amado, querido e reconhecido pelos seus esforços de atitudes antes do adoecimento.

 

Mas atenção:  cuidar e ser cuidado também pode despertar sentimentos negativos. Veja alguns  exemplos:


  • Acarreta sobrecarga física e mental;
  • Stress emocional;
  • Acúmulo de tarefa;
  • Redução da liberdade pessoal;
  • Mudança do estilo de vida;
  • Renúncias e limitações profissionais;
  • Insatisfação com a própria vida;
  • Dificuldades financeiras;
  • Insegurança;
  • Medo;
  • Solidão.


A pessoa que está sendo cuidada, ao receber o cuidado,   pode também despertar sentimentos contraditórios ou se sentir culpado por está dando trabalho e tristeza pela perda da sua autonomia e dependência.

Cuidar de um adulto altamente independente é desgastante e implica risco.

Os cuidadores podem ter mais problemas de saúde quando comparado com pessoas da mesma idade que não é cuidador.

Cuidadores participam menos de atividades sociais, têm mais problemas no trabalho e apresentam com maior frequência conflitos familiares.

O esforço continuado de tal situação pode diminuir a resistência a doenças e levar ao stress, em alguns casos a depressão


É muito importante cuidar bem de si mesmo


Cuidar de si próprio não é uma reação egoísta, pelo contrário é essencial para a manutenção da saúde com reflexo na qualidade dos cuidados que estão sendo prestados.

Cuidar de si é essencial para sua saúde, seu bem-estar e para prestar os cuidados com qualidade.

Ser cuidador principal nem sempre é uma escolha

Com o passar do tempo , um familiar pode se sentir mais capaz do que os outros para realizar certos cuidados, podendo assim ter dificuldade em dividir a responsabilidade do cuidar.

A divisão dos cuidados é um tabu em muitos ambientes familiares, por diversos motivos, , mas exercer exclusivamente cuidado ao longo prazo pode ser fisica e emocionalmente desgastante.

O objetivo do compartilhamento é proteger a saúde e o bem-estar do cuidador e garantir melhor qualidade do cuidado oferecido.

O compartilhamento do cuidar é uma estratégia para diminuir as sobrecargas e o desequilíbrio das atividades de vida diária. 

A tarefa de cuidador principal pode ser exercida por uma só pessoa, mas todos os familiares devem se esforçar para ajudar, amenizar e evitar a sobrecarga e estresse desse cuidador principal.

Para o compartilhamento acontecer é essencial que o cuidador esteja disponível para a divisão de tarefas.


Dicas de como dividir tarefas do cuidador de AVC:


Liste as atividades diárias do cuidador
Liste as atividades diárias do cuidador

 1. Liste quais são as atividades que precisam ser prestadas, identificando e  anotando:


Inclua as atividades que estão envolvidas nesse cuidado, calcule o tempo que é gasto para realizar as atividades mais demoradas e o custo envolvido nesses cuidados, especialmente aqueles custos que são recorrentes.

Incluir o cuidado e custos indiretos, como a saída para pegar um medicamento no posto ou farmácia, compra de fraldas, e as alimentações especiais.

Importante frisar que os cuidadores são seres humanos e eventualmente podem ter imprevistos,então as receitas médicas precisam sempre estar disponíveis e visíveis em locais que outras pessoas possam ter acessos em caso de uma necessidade.


Agrupe as atividades semanais
Agrupe as atividades semanais

2.  Separe quais são os cuidados diários, semanais, mensais e esporádicos.


Identifique e agrupe as atividades que são diárias, semanais ou mensais. Não esqueça daquelas tarefas esporádicas, pois ajudarão na organização da agenda. Serviço de reabilitação, consultas médicas e outros cuidados que são esporádicos devem ser registrados. 

Cronograma diário
Cronograma diário

3 -  Estruture um cronograma das tarefas diárias com os horários que devem ser realizados.


Registre  as orientações das equipes multidisciplinares e dos médicos, em quais são os horários que essas atividades devem ser desempenhadas. 

Isso facilita visualizar inclusive, quais são aqueles períodos do dia que seria mais recomendado ter um cuidador, ou ter um outro familiar que possa estar ajudando.

São os horários de maior sobrecarga, seja uma sobrecarga física ou mental, e também  para estimular as pessoas a visualizarem onde  encaixar sua vida nessa tabela de cuidados.

Muitas vezes quando o paciente é muito dependente, humanamente é impossível uma só pessoa realizar todos aqueles cuidados.

E às vezes vamos ter que priorizar um cuidar do outro, então a qualidade do cuidado prestado aquele paciente não vai ser totalmente efetivo devido à sobrecarga do cuidador.

Frente a isto, discuta com a equipe multidisciplinar as melhores formas de adequar o cronograma.

Por exemplo,  o profissional terapeuta ocupacional pode conversar com o  nutricionista sobre como será a primeira dieta do dia do paciente, se feitas com suplemento alimentar ou  feita ao longo do dia. Essas ações ajudam a administrar o tempo, para que o paciente não acorde muito cedo, por exemplo.

Outro exemplo de adequação do tempo, é o que se refere aos  medicamentos; realizar um cronograma para a organização dos medicamentos e discutir com o médico a possibilidade de agrupar os remédios em determinados horários,  para que o familiar cuidador não tenha que ficar o tempo inteiro com a mente voltada para os medicamentos.

De acordo com o cronograma a equipe multidisciplinar também visualiza quais são os horários, como o banho - por exemplo para definirem a necessidade  de um enfermeiro ou outro cuidador.

Dessa forma, se consegue visualizar quais os períodos  que precisam ter alguém por perto e verificar os horários de sobrecarga de cuidados.


Cronograma mensal
Cronograma mensal

4.  Estruture um cronograma mensal com as atividades semanais, mensais e esporádicas


Após identificar as atividades desenvolvidas pelo familiar cuidador do AVC, agora é o momento de organizar essas atividades. Também ajuda haver sobrecarga em algum período, se está dividida nessas tarefas durante a semana ou durante o mês.


Não assuma atividades que o acometido do AVC pode fazer
Não assuma atividades que o acometido do AVC pode fazer

5. Reflita se você não está assumindo tarefas que a pessoa que está recebendo cuidado  é capaz de realizar.


Evite fazer tarefas que a pessoa acometida com o AVC é capaz de realizar sozinho ou mesmo parcialmente  com supervisão.

O cuidador deve  evitar fazer o que o outro consegue realizar,  o familiar cuidador deve estimular a participação da pessoa,  de acordo com suas possibilidades,  Isso ajuda na manutenção das capacidades e previne declínios ao longo do tempo.

O terapeuta ocupacional pode ajudar a pessoa se tornar mais independente com diversas estratégias

Existem diversos  recursos de tecnologia assistiva,  na modificação de atividades para que as pessoas possam participar mais dessas atividades.

Envolva alguém nos cuidados
Envolva alguém nos cuidados

6. Procure envolver os familiares nos cuidados, mesmo aqueles que estão mais distantes.


A relação de cuidados nem sempre é fácil, mas ela é fortalecida pelo carinho e pelo afeto.

nicie com o membro familiar que a pessoa cuidada tem mais afinidade, ou mais empatia.

E isso vai facilitar a confiança, frisando que a relação de cuidado nem sempre é fácil, mas ela é fortalecida pelo carinho e pela fé.

Compartilhar informações
Compartilhar informações

7. Compartilhe informações sobre as enfermidades


Sempre que possível peça para um familiar acompanhar nas consultas médicas e multidisciplinares, é de extrema importância ter informações, pois facilita na participação e aceitação do cuidado.

Apresente o cronograma dos cuidados para os familiares e peça ajuda para a busca de soluções em conjunto, mostre que a participação dos cuidados pode contribuir para o seu bem-estar e o bem-estar de quem está necessitando, sugira maneiras de contribuição e entenda o que cada membro é capaz de oferecer.

Existem  formas de ajudarem mesmo indiretamente, como por exemplo, contribuindo financeiramente na  contratação de  um cuidador nos períodos identificados como de maior sobrecarga. Outra forma de contribuir é na aquisição de alguns suprimentos ou nas saídas para os cuidados indiretos.


Você também tem direito de descansar


Busque aconselhamento profissional, participe de grupo de apoio e orientação, principalmente no início do cuidado, durante o planejamento da alta hospitalar ou de um serviço de reabilitação.

Mostre a sua rotina, suas dúvidas e peça sugestão de como você pode melhorar a distribuição daquelas tarefas.

Cuidar pode ser muito gratificante e ao mesmo tempo acarretar desgaste e adoecimento do cuidador.

O compartilhamento do cuidado, especialmente quando este é requerido a longo prazo, pode diminuir a sobrecarga e proporcionar cuidados mais efetivos, contribuindo para a qualidade de vida de todos os envolvidos.


Cuidar é um ato de amor, sobretudo de amor a si próprio!


SAMIRA RAFANI - Terapeuta Ocupacional
SAMIRA RAFANI - Terapeuta Ocupacional

*Este vídeo faz parte da programação da II SEMANA AÇÃO AVC - com o tema AVC - UMA DOENÇA DA FAMÍLIA  (evento destinado a pacientes e familiares de AVC, promovido pela Associação AÇÃO AVC).