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NEUROPLASTICIDADE

A neuroplasticidade na reabilitação após o AVC

27/07/2021



Nosso cérebro:


O cérebro controla  nossos comportamentos, por exemplo ao sentirmos fome, por mais que possa parecer que é o estômago que está produzindo essa sensação, o que realmente acontece é que os neurônios presentes no cérebro emitem sinais que causam a sensação de fome e que nos motivará a comer.

É um pensamento comum, que as pessoas que sofreram algum tipo de lesão neurológica, como o AVC, estão fadados a não ter nenhum tipo de melhora e que para esses pacientes resta apenas a manutenção, mas este é um pensamento equivocado, pois no nosso sistema nervoso ocorre um fenômeno chamado neuroplasticidade.

Assista o vídeo sobre o assunto, pela fisioterapeuta Willy Carla:


O que é neuroplasticidade?


Durante todo o dia,  somos expostos a vários tipos de estímulos e na maioria do tempo a mais de um tipo concomitantemente; eles podem ser estímulos táteis como o toque - ou  auditivos, como ouvir música por exemplo.

Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se transformar, de mudar, em resposta aos estímulos aos quais somos submetidos. Se você hoje o invidíduo não consegue realizar determinada atividade, mediante estímulos corretos, na intensidade correta, é possível readquirir uma habilidade perdida.

A neuroplasticidade não é um evento novo, no final do século XIX, Santiago Ramón y Cajal descreveu que havia mudanças em cérebros adultos. Essa informação  foi um conhecimento novo, pois era consenso comum da época que o cérebro adulto não sofria transformação, levou algum tempo até que esse entendimento fosse tomado como correto e incorporado ao conhecimento científico. 


Neuroplasticidade - Ramón Y Cajal
Neuroplasticidade - Ramón Y Cajal


Hoje, sabe-se que a neuroplasticidade não é algo que aparece no cérebro por causa de uma lesão, é um fenômeno que nos acompanha, do nascimento à velhice e envolve qualquer aprendizado.

Se você ou algum familiar sofreu um AVC,  é muito importante que entenda a  doença, pois a partir do momento da compreensão do que está acontecendo com seu corpo,  consegue transformar coisas do dia a dia,  para conseguir o máximo de reabilitação e intensificar os resultados obtidos.

Na maioria dos casos, o tempo de terapia, que em geral dura 50 minutos, é desproporcional ao tempo que estamos fora dela, então se durante o período fora da terapia a pessoa não estimular a neuroplasticidade adequadamente, a terapia pode não surtir o efeito possível e desejado.


Neuroplasticidade X Reabilitação após o AVC


A neuroplasticidade é um fator essencial para a reabilitação pós AVC,  já que é por meio dela que será  possível a aprendizagem de novos comportamentos, no entanto a neuroplasticidade não acontece somente com os estímulos corretos, ela ocorre na presença de qualquer estímulo, então é preciso estarmos atentos a quais estímulos estamos sendo submetidos,  para não estimularmos o que chamamos de plasticidade negativa.

Plasticidade positiva e negativa
Plasticidade positiva e negativa

Por exemplo:  Quando o indivíduo  quer levar a mão à boca, é  necessário fazer uma flexão no  cotovelo e ombro até  tocar a boca. Se após um AVC,  esta habilidade for perdida e cada vez que essa pessoa tentar realizar esse movimento, junto com a flexão realizar  também uma abdução de ombro (a abdução é o movimento de afasta o braço do corpo), estará gerando uma neuroplasticidade negativa, ensinando um comportamento motor desnecessário e muitas vezes prejudicial, por isso é necessário que os estímulos sejam sempre conduzidos de maneira correta a fim de gerar uma plasticidade positiva.


Plasticidade positiva: Estímulos corretos, que gerarão respostas adequadas

Plasticidade negativa: Estímulos conduzidos de forma  errada,  que gerarão uma resposta inadequada.


É importante ressaltar, que a relevância do estímulo está diretamente ligada a neuroplasticidade. Imagine o seguinte cenário:  um jogador de futebol sofreu um AVC e está em processo de reabilitação. Durante a terapia,  quanto mais conectados os estímulos que ele  receber, relacionados com o que é importante para ele,(futebol), mais plasticidade e novas conexões esse estímulo será capaz de gerar.    Nesse caso,  trabalhos com bola de futebol, com os pés sobre o gramado por exemplo, serão muito bem-vindos. No caso de uma pessoa idosa,  que ama ficar sentada fazendo crochê, os estímulos empregados precisam ser diferentes, visto que futebol tem pouca ou nenhuma relevância para ela, sendo assim a neuroplasticidade gerada seria menos relevante que no caso do nosso jogador de futebol.


neuroplasticidade X estímulos corretos
neuroplasticidade X estímulos corretos


Outro ponto importante de salientar é que nosso corpo tem capacidade para habituar-se aos estímulos, então para pessoas em reabilitação,  é importante que os estímulos sejam variados na medida correta, pois se mantivermos o mesmo estímulo por muito tempo, chegará uma hora que  produzirá pouco ou nenhum tipo de resposta. Sim, repetição é fundamental no processo de aprendizado, no entanto não podemos estar submetidos ao mesmo estímulo e  na mesma intensidade sempre.  


Quais fatores influenciam positivamente a neuroplasticidade? 


Exercícios físicos, em especial os aeróbicos, têm a capacidade de aumentar a neurogênese (produção de novos neurônios) e a sinaptogênese (aumento da comunicação entre os neurônios), que são pilares indispensáveis para a ocorrência da neuroplasticidade; além de gerar um fator de proteção do sistema nervoso central. 

Neuroplasticidade e exercícios
Neuroplasticidade e exercícios


A motivação intrínseca (interna) e extrínseca (externa) também são fatores que contribuem para a neuroplasticidade. Definição de metas atingíveis durante o processo de reabilitação geram o aumento do engajamento com a terapia e aumento da motivação extrínseca.

Vários estudos que confirmam que nós ganhamos neurônios todos os dias quando acordamos, essa é uma notícia boa, no entanto se não usamos esses neurônios e eles não têm estímulos, os perdemos ao final do dia, dessa forma, esses detalhes aqui abordados são fundamentais. Perceba como nosso cérebro pode reaprender depois de uma lesão, ou seja, melhorar o movimento  com dificuldades naquele momento.


Lembre-se: Quando falamos do nosso corpo, o que não usamos (células, músculos, etc.) perdemos e aquilo que usamos, melhoramos, aprimoramos.


Este vídeo faz parte da palestra da SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC), promovido pela Associação AÇÃO AVC.


Willy Carla - Fisioterapeuta
Willy Carla - Fisioterapeuta