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EXERCÍCIOS DIÁRIOS APÓS O AVC
Atividades diárias após o AVC
Existem algumas atividades de estimulação que podem ser feitas todos os dias, independentemente de estar na sessão de fisioterapia. Sabe-se que a realidade do acesso à fisioterapia é muitas vezes complicada. Assista o vídeo da fisioterapeuta Ludmila, que vai explanar sobre o tema, ou leia o texto a seguir.
Alguns pacientes não conseguem realizar tratamento fisioterapêutico adequado, outros sequer conseguem atendimento. Em tempos de pandemia esse acesso ficou bastante comprometido, de forma que essa estimulação diária se tornou ainda mais evidenciada.
As pessoas perceberam que é fundamental realizar alguma atividade dentro de casa, já que com a pandemia a participação social é inviável. Essa conduta precisa fazer parte do dia a dia pós AVC.
Então... como fazer isso?
Qual a melhor forma de fazer isso?
Certamente você já deve ter escutado que cada AVC é diferente do outro e gera um comprometimento distinto, por mais que exista uma lesão numa mesma área e de uma mesma extensão, quando comparado a outra pessoa. Nesses casos, o histórico do indivíduo, a forma como ele levava a vida anteriormente, a forma como ela lida pós-AVC e a questão emocional, pode modificar completamente a resposta de quadro de lesão muito próximos, muito parecido ou até iguais; então independente da área e extensão de lesão ser a mesma, são indivíduos diferentes que reagem de forma distintas.
É muito difícil a gente falar que existe um padrão típico, que será desta ou daquela forma para todos ou vai ser desse jeito para umas pessoas e daquela forma para outras, por isso a importância de que cada indivíduo entenda a sua limitação.
Atualmente, na era de redes sociais, observa-se muitas pessoas que tiveram AVC postando seus exercícios e isso é preocupante, porque como discorremos acima cada ser é único e às vezes uma pessoa começa a repetir exercícios que podem não ser apropriados para ela especificamente, por isso deveremos ter todo o cuidado.
Recomendamos que a pessoa que sofreu o AVC tenha sempre orientação do seu fisioterapeuta, para avaliação adequada, observando exatamente quais são as suas limitações, o que que você precisa trabalhar para melhorar essa limitação e qual o planejamento para que isso ocorra.
O planejamento das atividades diárias deve ser feito após avaliação minuciosa do fisioterapeuta, essa estimulação diária é fundamental e necessária para que aconteça a formação de novas conexões neurais e a pessoa consiga adquirir alguns movimentos que, devido ao AVC são difíceis de serem realizados, ou foram perdidos.
Mas, como fazer isso?
Qual é melhor forma de fazer já que para cada um é de um jeito? Existem alguns pontos que são bastante interessantes.
O primeiro deles é a frequência. A frequência é quantas vezes você faz aquela estimulação. Geralmente a estimulação precisa associada a alguma atividade do dia a dia daquela pessoa. Vamos citar um exemplo: escovar os dentes, uma atividade que as pessoas fazem geralmente três vezes ao dia, isso é uma boa frequência de estimulação.
Se a pessoa quer fazer uma atividade simples, como por exemplo fazer movimentos para prender o cabelo, mas nunca prende seu cabelo, então essa frequência vai ser pequena, dessa forma, a pessoa precisa realizar pequenos movimentos como prender o cabelo ou escovar os dentes exatamente como intenção de gerar o movimento frequente, que terá uma função na reabilitação.
Não adianta escolher uma atividade de estimulação que não faça parte do cotidiano da pessoa, ou que não tenha o objetivo funcional, porque não vai fazer diferença na vida de quem sofreu o AVC.
E qual a frequência desejada? O ideal é
que a repetição seja feita diáriamente, às vezes mais de uma vez por dia,
respeitando sempre os limites de dor, cansaço físico ou mental pós AVC. Às
vezes a força para realizar determinado exercício, ou o esforço do pensamento para realizar determinado movimento, torna a atividade
bastante cansativa, cada um deve respeitar o seu limite de cansaço
físico e mental, e aos poucos gerar um aumento dessa repetição.
O segundo ponto importante é a quantidade de vezes que o movimento é repetido. A frequência é quantas vezes o exercício é realizado e as repetições se referem ao número de vezes que se repete o movimento daquela atividade.
Ainda no exemplo de escovar os dentes, quantas vezes é realizado o movimento de levar a escova para frente e para trás na boca? Lembrando sempre a limitação de cada um.
Se a pessoa não consegue escovar o dente com a mão do lado lesionado, é interessante pelo menos pegar a escova com a mão lesionada e tentar levar até a boca.
Após conseguir levar até a boca, deve tentar de novo, fazer pelo menos duas três repetições até a atividade ficar fluida, sem movimentos descoordenados por exemplo. O treino precisa começar devagar para que cada um possa entender o que que consegue e o que que não consegue fazer.
Além de frequência e repetição, pensar em qual a limitação da pessoa é muito importante, refletir se consegue ou não fazer aquela atividade específica.
No exemplo da escovação de dentes, se o indivíduo não consegue escovar os dentes porque ele tem dificuldade em abrir a mão para pegar a escova, então o treino pode ser primeiramente de abrir a mão para ir pegar o cabo da escova.
A divisão da tarefa em algumas partes, ou seja, o fracionamento da atividade vai ser útil para que se consiga lidar melhor com as conquistas, de forma positiva e com as frustrações.
Existem aqueles que tentam escovar o dente e não consegue, de forma que a reação e não tentar mais, mas esta é uma maneira reativa de lidar com a frustração. Mude a mentalidade, não desista, se proponha a apenas pegar o cabo com a mão lesionada e vá avançando e celebrando a vitória de cada nova etapa concluída com sucesso.
Vamos exemplificar mais algumas atividades funcionais: abrir um pote de hidratante. Este movimento é caracterizado como bi manual, pois existe a necessidade do uso de ambas as mãos para a execução da tarefa.
É um erro comum, após o AVC, da pessoa não querer utilizar o membro lesionado e realizar as atividades apenas com a mão sadia, por exemplo. A estimulação precisa ocorrer do lado comprometido como parte do corpo como um todo, mesmo com a existência de alteração na sensibilidade ou mobilidade desse membro.
Sempre termine a tarefa, mesmo que precise de ajuda da outra mão. Outro fator importante é priorizar a segurança, ou seja, se você nunca abriu o pote de hidratante, inicie essa atividade com um pote de material plástico que é mais leve, ao invés de pegar o de vidro, mais pesado.
Sempre inicie a tarefa pelo mais fácil, perceba as limitações, a capacidade e vá progredindo, tornando a atividade mais difícil, à medida que se consegue.
Uma escova de dente com cabo mais grosso é mais fácil que uma escova de dente com o cabo mais fino. Um pote cheio vai ser mais difícil do que um pote vazio, porque ele vai estar mais pesado.
Outro exemplo…. O copo descartável é leve, um copo de plástico vazio exige um movimento coordenado, já que não se pode apertar, tem que ir sentindo aos poucos. Já a xícara de porcelana é mais pesada e pode ser mais difícil de pegar do que um copo leve. Caso não consiga segurar a xícara grande, inicie o treinamento com uma menor. Essas atividades vão estimular a mobilidade e todo o movimento que se necessita para aquela determinada tarefa.
Alguns exemplos de pequenas atividades diárias que devem ser estimuladas: passar um pano para retirar a poeira de um móvel, colocar a fronha no travesseiro, estender uma roupa de cama, colocar uma toalha no varal.
Todas essas ações dependem das limitações e da capacidade da pessoa que sofreu o AVC. Importante ressaltar que a dor, a dificuldade movimento, cansaço, fadiga, tremor ou cansaço mental, são fatores limitantes, sinais que devem ser respeitados. Descansar e tentar novamente mais tarde é uma alternativa para lidar com essas situações.
Para os membros inferiores, uma forma de estímulo é o movimento de sentar e levantar. Se a pessoa não consegue realizar essa atividade sozinha, busca ajuda: pode ser em um outro indivíduo, pode ser em uma barra na parede, ou de uma muleta. O nível de ajuda necessária para se levantar vai diminuindo a cada exercício, o apoio é cada vez menor. Cada um deve refletir sobre sua dificuldade: consegue se levantar sem segurar uma outra pessoa? Nunca tentou? Tente, segurando numa barra, numa pessoa, mas tente, sempre priorizando sua segurança.
Avaliar as alternativas, como por exemplo observar se a cama é muito baixa e está dificultando a tarefa de levantar. A ajuda de travesseiros no quadril, pode funcionar como uma alavanca para se levantar, facilitando e diminuindo o esforço.
A cama pode estar muito baixa, dificultando a tarefa. Coloque por exemplo travesseiros embaixo do bumbum, porque funciona como alavanca para você se levantar e você consegue de uma forma mais fácil, com menos esforço levantar, e à medida que a atividade vai se tornando mais fácil, os travesseiros podem ser retirados, até que se consiga levantar da cama sem nenhum travesseiro.
Outra boa dica é levar o quadril o mais próximo possível da beirada do assento ou da cama, jogar os pés um pouco mais para trás, movimentos que permitem levantar com mais facilidade. Conhecer algumas estratégias, permite que a pessoa possa repetir esses movimentos.
Caso a pessoa acometida pelo AVC não
consiga realizar determinadas atividades, todos devem entender que é comum, o
importante é treinar exatamente esta parte da tarefa. Isto é estimulação, fazer
movimentos com o corpo, estimulando as funções motoras e novas conexões neurais, de forma que o
movimento seja resgatado, aos poucos.
Não esqueça: a frequência é importante, a escolha da atividade é importante, as repetições são importantes, mas sempre termine ela de alguma forma.
Este vídeo faz parte da palestra da SEMANA AÇÃO AVC (evento destinado a pacientes e familiares de AVC), promovido pela Associação AÇÃO AVC.